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quarta-feira, 8 de abril de 2020

Podcast Sociologia: Povos Indígenas [introdução]

O podcast abaixo trata, de forma breve e introdutória, dos povos indígenas a partir do olhar da sociologia. Os primeiros antropólogos baseavam os seus estudos a partir de percepções de segunda mão - de relatos de viajantes. No podcast fazemos uma reflexão sobre esse tema e também sobre o etnocentrismo o bom e o mal selvagem.



 





Temas abordados:

-evolucionismo;
-antropologia;
-etnocentrismo;
-povos indígenas;
-bom e mal selvagem;


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Negros são maioria nas universidades públicas: momento deve ser visto com cautela!




 Fonte:Image by jason sackey from Pixabay

Em meio a tantas notícias ruins surge uma boa notícia: Os negros e pardos são maioria nas universidades. É claro que são maioria em um tipo delas - as universidades públicas. No entanto é um resultado de esforço do Movimento Negro e da sociedade civil.


"Nós vamos ter uma classe média negra com diploma... vão ser poucos mais vão ser significativos (...) e vai fazer diferença!  O que pode ocorrer? O esquecimento de que os negros são minoria e pode começar a aparecer gente negra que simplesmente se esqueça das lutas dos negros - isso ocorreu nos EUA!"

Paulo Ghiraldelli, 13 nov. 2019 em seu canal no youtube



Uma possível mudança de direção, mais à direita, atacando movimentos sociais, esquecendo do racismo, esquecendo da intolerância e da diferença de classe social é um perigo iminente no Brasil. Mesmo com pessoas negras ocupando cada vez mais cargos e migrando para a classe média - a desigualdade no Brasil é extrema. Tanto desigualdade de classe e, por tabela, o de raça/etnia. Esse recorte não é coincidência, pois é resultado de racismo e do grande mal que assola (ainda) o país - a escravidão.

Senzala: Casa de escravos. Fonte: Image by hmauck from Pixabay


Quando negros foram libertos (formalmente) ocorreu uma exclusão profunda. Retiraram os homens e mulheres negras escravizadas [é bom que se diga que não são escravos, são antes de tudo pessoas, isso mesmo, pessoas que foram escravizadas!] das fazendas e os deixaram ao léu.

Há relatos históricos que informam que vários foram deixados nas ruas, na periferia das cidades, sem trabalho, sem casa, sem políticas públicas que oferecessem condições básicas de inserção social dessas pessoas. Então, sem roupas, sem casa, sem base - o que se configura é uma anomia social durkheimiana. E quando muitos tentavam empregos - a sociedade conservadora branca racista dizia que eles não sabia trabalhar livremente.



Fonte: Image by hmauck from Pixabay

O país só vai para frente quando conseguirmos superar o mal maior que figura na história do Brasil: a escravidão. Ainda hoje, o espectro desse mal, nos impacta negativamente - com um racismo que esconde as mazelas e a dominação. Mais dia de consciência negra, mais negros (críticos), mais intelectuais que trazem luz ao debate e menos discriminação e ódio!



domingo, 29 de setembro de 2019

Coleção de retratos mostra a relação entre humanos e animais - de Steve McCurry

Uma reportagem do portal El País mostra uma coleção de retratos de diferentes lugares, a partir da relação entre humanos e animais - com laços emocionais e não apenas o domínio!

A coleção é do fotógrafo Steve McCurry, famoso fotógrafo do retrato de 1985 de uma garota afegã de olhos verdes.




Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/25/album/1569434584_867091.html


segunda-feira, 20 de março de 2017

Importante vídeo sobre a cultura indígena : Os indígenas - Raízes do Brasil [vídeo animação]


Um vídeo de animação que trata dos povos indígenas desde a chegada dos portugueses em solo sul-americano. Apresenta, de modo didático, algumas informações preliminares para que possamos melhor compreender quem são esses povos e o que os diferenciam da sociedade não índia. Apresenta a diferença de suas diversas etnias, ritos, idiomas e crenças. Para que possamos ter um olhar mais ético e com alteridade que as culturas nativas merece.

Para saber mais acessem:
http://rizomaestudio.com.br/

Esta obra foi realizada com o patrocínio do Município e Fundação Cultural de Joinville por meio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura.

domingo, 12 de março de 2017

ABC da diversidade - Interessantes conceitos de Antropologia


Livro “Antropologia e História dos Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul” ajuda no conhecimento da realidade dos povos indígenas

Rico e atual material paradidático sobre a temática indígena nos aspectos históricos, antropológicos, educacionais e linguísticos, o livro “Antropologia e História dos Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul”, organizado pelo professor do CCHS Antônio Hilário Aguilera Urquiza, acaba de ser lançado pela Editora UFMS.
Patrocinado pelo Ministério da Educação, o livro reúne textos elaborados por professores especialistas, estudados e debatidos pelos alunos do Curso de Especialização Antropologia e História dos Povos Indígenas.
“O livro é fruto de dois cursos de especialização sobre a temática indígena, em parceria com o Governo Federal (SECADI/MEC). O curso de especialização visa à concretização da Lei 11.645 (2008), que propõe a temática indígena em sala de aula”, explica o professor Antônio Hilário.
O organizador explica que o curso visou à formação de professores para a compreensão da temática indígena, nacional e regional e para os que são professores, elementos para serem trabalhados em sala de aula.

O curso insere-se no processo de criação da Rede de Educação para a Diversidade (REDE) e foi ofertado com 360 horas, em dez módulos, na modalidade semipresencial, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB).
”O curso quer proporcionar ainda o estabelecimento de uma rede de colaboração para a discussão e partilha de informações e aprendizagens sobre práticas pedagógicas inclusivas na escola”, completa o professor.
Textos
Composto de seis partes, o livro inicia-se com uma visão da Antropologia e da Historia Indígena, seguindo-se textos sobre os povos indígenas no Brasil Contemporâneo, depois se aborda os preconceitos e os povos indígenas, as relações interétinicas, a educação escolar indígena – marco conceitual e encerrando com os direitos indígenas e indigenistas.
“Não é um livro conclusivo, mas traz muitos temas e dados atuais acerca da realidade dos povos indígenas no Brasil e em Mato Grosso do Sul, sobretudo temas relacionados à fragilidade de quase todas as línguas indígenas faladas no estado, algumas inclusive, à beira da extinção, como o caso das línguas Guató, Ofaié e Kiniquinau. Dessa forma, o livro leva à reflexão acerca da realidade atual e real dos povos indígenas, buscando superar estereótipos românticos (índio “puro” e pelado na floresta) e generalizantes (os índios são todos iguais) acerca destas sociedades”, afirma o organizador.
Para Antônio Hilário, “Antropologia e História dos Povos Indígenas em Mato Grosso do Sul” é uma ferramenta para os que fizeram o curso de especialização, mas também para os demais leitores comuns e de qualquer área do conhecimento, especialmente jornalistas e “formadores de opinião”.

Fonte: www.ufms.br

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A solidão tem cor - notícia da Revista Fórum discute relacionamento da mulher negra brasileira

Por Anna Beatriz Anjos e Jarid Arraes da Revista Fórum
No último Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, dados sobre a mulher negra brasileira chamaram a atenção. O levantamento apontava que, à época, mais da metade delas – 52,52% – não vivia em união, independentemente do estado civil (veja os dados aqui).
O quadro pincelado pelas estatísticas tem cores extremamente vivas para as mulheres negras brasileiras, que, de acordo com inúmeros relatos, sentem na pele os efeitos da solidão e do preterimento durante toda a vida. Há anos o movimento feminista negro aborda essa pauta, mas ultimamente, com a força das redes sociais, o debate tem se amplificado – sobretudo no tocante aos relacionamentos heterossexuais – e causado polêmica.
A discussão sobre afetividade da mulher negra extravasa os círculos de militância: ao longo das décadas, diversos intelectuais tocaram nessa questão em suas dissertações, teses e artigos, principalmente quando tinham como objeto de estudo as relações interraciais no Brasil. Exemplos são Thales de Azevedo, Florestan Fernandes, Elza Berquó, entre outros.
Mais recentemente, duas intelectuais negras têm se destacado na produção acadêmica sobre o assunto. Em 2008, a socióloga e professora da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Ana Cláudia Lemos Pacheco se tornou doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com a tese Branca para casar, mulata para f…., negra para trabalhar”: escolhas afetivas e significados de solidão entre mulheres negras em Salvador, Bahia que, em 2013, foi convertida no livro Mulher negra: afetividade e solidão  (Edufba). No mesmo ano, Claudete Alves obteve o título de mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) com a dissertação A solidão da mulher negra – sua subjetividade e seu preterimento pelo homem negro na cidade de São Paulo, que posteriormente se transformou no livro Virou Regra? (Scortecci, 2010). Ambas conversaram com a Fórum sobre seus trabalhos, os primeiros a focalizar a figura específica da mulher negra e a dar voz a ela.


Dados do Censo de 2010 atestam: mais da metade das mulheres negras brasileiras não estão em união, independente do estado civil (Foto: Reprodução/Facebook)
Dados do Censo de 2010 atestam: mais da metade das mulheres negras brasileiras não vivem em união, independente do estado civil (Foto: Reprodução/Facebook)




Solidão, uma questão histórica 

Antes de falar sobre a solidão da mulher negra é preciso, segundo Claudete Alves, olhar para a solidão de seu grupo étnico, que se inicia quando ele é “espoliado de seu habitat”, a África, e “destituído de seus meios de produção e de seu próprio corpo enquanto transformador de matéria-prima, de seus sentimentos e de seus afetos. Esse processo, que se configura em uma diáspora negra imposta, denota que tal ocorrência, dolorosa e traumática, afetou o caráter das relações sociais desse grupo social no Brasil e do seu processo de identidade cultural”, escreve a autora em Virou Regra?.
“Ao me debruçar sobre a historicidade da mulher negra, vejo que sua trajetória, a partir da ruptura diaspórica africana até a contemporaneidade, foi permeada pela solidão”, continua a cientista social em sua obra. No decorrer do texto, ela estabelece uma intrincada relação entre o quadro de solidão a que as protagonistas de seu estudo estão submetidas e o processo de escravidão no Brasil.
De acordo com Alves, as mulheres negras eram alforriadas antes dos homens, por estes “serem considerados elementos essenciais à produção agrícola”. “Essa condição excludente e de marginalização a que o homem negro foi relegado imprime um novo contorno à configuração familiar existente, fazendo surgir famílias matrifocais”, explica no livro. “Típicas do Novo Mundo, ao contrário das famílias poligínicas da África, sua característica básica é ser chefiada por mulheres, o que outorga ao feminino a condição de centralidade e autoridade na assunção da permanência e da guarda do lar, em contraposição à ausência definitiva ou flutuante da figura paterna.”
Somado a isso, observava-se, conforme Alves, ocorria “a existência de uma intensa liberdade sexual na vida masculina”, de forma que os homens negros mantinham outros relacionamentos além de seu casamento sem que houvesse “perda de regalias ou prejuízo social”. “Encontramos, assim, mulheres forras e livres, na sua grande maioria solitárias, muitas vezes mães solteiras, como eixo central de seus lares e que, por não terem casado, seja por escolha voluntária, seja por dificuldades sociais ou por preterimento do parceiro, não vivenciaram uma condição de acesso social ou de estabilidade amorosa”, completa, em Virou Regra?.


Gostos e escolhas são construções sociais

Os dados obtidos pelo IBGE revelam que a situação de solidão ainda acomete as mulheres negras, mais de um século após a abolição. Por que, ao longo dos anos, o cenário não se modificou?
De acordo com a antropóloga Laura Moutinho, professora do Departamento de Antropologia da USP (Universidade de São Paulo), no artigo Discursos normativos e desejos eróticos: A Arena das Paixões e dos Conflitos entre “Negros” e “Brancos”, nota-se “a existência de um padrão marital homogâmico na sociedade brasileira; um percentual relativamente baixo de casamentos ‘interraciais’ e, nestes, a predominância do par homem ‘negro/mulher ‘branca’”.
Analisando-se a afirmação de Moutinho, é possível concluir que, nas relações interraciais, são as mulheres negras as mais frequentemente preteridas pelos homens negros, que, conforme demonstra a antropóloga, subvertem a regra do “padrão marital homogâmico” e se relacionam fora de seu grupo étnico, com mulheres brancas. Isso também se comprova por números do último Censo, que indicam: “homens pretos tenderam a escolher mulheres pretas em menor percentual (39,9%) do que mulheres pretas em relação a homens do mesmo grupo (50,3%)”.
Aspectos demográficos podem representar um caminho para a compreensão desse quadro. “Quando se pesquisa, desde Elza Berquó, o mercado matrimonial, verifica-se que, no grupo branco, há um maior número de mulheres do que de homens. Então, pode-se dizer que há uma ‘sobra’. No grupo negro não, identifica-se um equilíbrio. Se não houvesse algum fato sociológico, não se constataria essa solidão no grupo negro”, analisa Claudete Alves. “A mulher branca, que é excedente em seu grupo, migra para o outro, e pelos fatos históricos acaba disputando em condição muito vantajosa no grupo em que há um equilíbrio.”
“Há uma tendência, enfatizada por Berquó, de o excedente de mulheres ‘brancas’ se unir ao excedente de homens ‘pretos’ e ‘pardos’. Tal tendência surpreende, pois ‘é de estranhar que justamente as mulheres pretas que contam com um excedente de homens pretos, exatamente na faixa etária mais favorável às uniões, acabem por ter menores chances de encontrar parceiros para casar. Nossa hipótese é de que o excedente de mulheres brancas na população deve levá-las a competir, com sucesso, com as pardas e pretas, no mercado matrimonial’”, escreve Moutinho em seu artigo.
O preterimento da mulher negra pelo homem negro é elemento frequente nas falas das personagens entrevistadas por Ana Cláudia Lemos Pacheco para sua tese de Doutorado. A socióloga ouviu, ao todo, 25 mulheres negras em Salvador, doze ativistas e treze não ativistas, todas pertencentes a setores da classe média e populares. Para realizar a análise de suas trajetórias sociais, selecionou dez – cinco ativistas e cinco não ativistas. “Eu diria que o triângulo que emergiu e foi muito recorrente nas narrativas das mulheres investigadas foi o formado por mulher negra, homem negro e mulher branca. Sobre homem branco pouco se falou, muito pouco, uma [vez] ou outra.”
“A rejeição é muito mais doída quando vem dos seus iguais; a mulher negra quer ser amada, ser feliz”, aponta a socióloga Eliane Oliveira, feminista, professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (NEIAB) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). “Penso que o homem negro precisa desconstruir o racismo não só no discurso, mas também nas suas práticas.”
A situação de vantagem em que a mulher branca se encontra em relação à negra no mercado matrimonial, sobretudo em relação aos homens pardos e negros, é evidente. “Isso é uma pista segura de que há a interferência social e histórica que termina também sendo um dos fatores que tira, para além de todos os outros direitos da mulher negra, o direito ao amor”, destaca Alves.
Segundo as pesquisadoras Ana Cláudia Lemos Pacheco e Claudete Alves, os homens negros escolhem as mulheres brancas por uma questão de status social (Foto: Divulgação)
Segundo pesquisadoras, no mercado matrimonial, a mulher branca tem vantagem sobre a negra (Foto: Divulgação)
Para Pacheco, uma série de fatores contribui para que as mulheres negras sejam preteridas pelo homem negro. Eles estão, em sua maioria, conectados a aspectos históricos e culturais que habitam nossa sociedade. “Em nosso imaginário cultural, as características raciais e fenotípicas da mulher negra – considerando a cor da pele, as características do cabelo, a estética – estão o tempo todo associadas a estereótipos negativos”, avalia a socióloga. “Essas representações estão vinculadas não apenas ao imaginário social mais geral, mas também ao imaginário acadêmico, literário. Na música, nas imagens socialmente produzidas, o que sempre se destacou [em relação à mulher negra] são essas características, relacionadas a um comportamento sexualizado, quase que servil – e isso é a reprodução de uma concepção bem colonial, quase que a imagem reproduzida da mulher escravizada, que estaria, portanto, para servir ao outro, ao senhor. E a outra representação é a do trabalho, de como a mulher negra seria ‘pau para toda obra’, seria boa para o trabalho servil e doméstico, e não seria uma mulher com desejos, com possibilidades de construir uma afetividade, de ter projetos pessoais, familiares, de uma mulher que tenha a capacidade de pensar.”
A historiadora Karla Alves, ativista negra do grupo de Mulheres Negras do Cariri – Pretas Simoa, conta que a solidão afetiva apenas agravou os efeitos do racismo sobre sua autoestima, algo que sente desde criança, quando era discriminada pelos colegas do colégio e não encontrava, nem nos meios tradicionais de cultura,
tampouco nos conteúdos escolares, referências negras positivas e legítimas. “Isso provocou um estigma ainda pior: a solidão existencial que, naquele momento, não me deixava contar nem comigo mesma”, diz. “A solidão da mulher negra é, portanto, parte indissociável da formação da nossa identidade que o racismo nos impõe. Durante a juventude e vida adulta esta solidão é alimentada pelo desprezo daqueles com quem almejamos estabelecer um relacionamento amoroso, já que passamos a ser vistas somente pelo nosso sexo expropriado e hipersexualizado, principalmente através da mídia.”
Em contrapartida, a imagem da mulher branca, segundo Pacheco, está vinculada a “um comportamento mais condizente com uma expectativa de gênero mais tradicional, aquela que seria ideal para casar, para se manter um relacionamento, para ser mãe, enquanto a mulher negra não caberia nessa representação.” Tal privilégio tem nítida ligação com o padrão de beleza branco difundido como ideal em nossa sociedade, e que não apenas não contempla como marginaliza as características estéticas negras. Sob esse prisma, pode-se dizer que a mulher negra sofre opressões somadas: machismo e racismo.
Estudiosos das relações interraciais no Brasil desde os anos de 1930 discutem também o casamento entre homens negros e mulheres brancas como estratégia de mobilidade social. “(…) a mulher, além de propiciar um dado acesso social ao homem negro, funcionaria como uma possibilidade de escamoteamento de seu padrão fenotípico, conferindo invisibilidade à sua cor”, considera Alves em Virou Regra?. De acordo com a autora, um dos principais méritos de seu trabalho é ter provado que essa prática não ocorre apenas com homens negros que já ascenderam socialmente, como consequência desse movimento – a exemplo dos jogadores de futebol negros, que famosos e endinheirados, frequentemente constituem família com mulheres brancas –, mas se dá em praticamente todos os estratos sociais. Para comprovar essa tese, a pesquisadora visitou diversos espaços da cidade de São Paulo, nas periferias e no centro – teatros, casas de espetáculos, supermercados, maternidades, entre outros – e observou a proporção de casais inter e intraraciais nesses locais.
Diante desses símbolos tão fortes e difundidos em nossa sociedade, é impossível dizer que escolhas do campo afetivo e sexual sejam mera questão de gosto pessoal, plenamente desconectado do universo social em que o indivíduo está inserido. “Na relação com o outro, o desejo de envolvimento afetivo em busca do prazer é permeado pelos valores e ideais estabelecidos pelo contexto social. A manifestação do desejo e o estabelecimento ou não de vínculos amorosos são também determinados por concepções advindas de uma visão machista e racista”, atesta a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Elisabete Aperecida Pinto, em sua tese de Doutorado Sexualidade na identidade da mulher negra a partir da diáspora africana: o caso do Brasil.
“É o que Sueli Carneiro já falou: nós, feministas negras, não estamos querendo controlar o relacionamento de ninguém. Nós queremos problematizar, porque é algo que tem nos atingido”, argumenta Pacheco. “O racismo é uma ideologia, uma crença que exclui. E não exclui só do mercado de trabalho, da educação, do campo do poder político; essas exclusões influenciam muito na hora da escolha [afetiva].”
“Sinto uma falta enorme de negros famosos que tenham uma defesa da causa negra nos espaços que ocupam na mídia. Mesmo no caso daqueles que fazem de seu trabalho uma forma de levantar nossa bandeira, percebo que na prática as coisas ainda se voltam para o previsível, ou seja, cedem ao padrão social de ter uma loira do lado”, observa Eliane Oiveira. “Muitos podem dizer que é uma questão de gosto,  mas nós somos socialmente moldados, dessa forma, nosso gosto não é isento de manipulação ou imposição do que é belo, bom, seguro e desejável. Ora, se sofremos ainda hoje com a herança escravagista de que negra é para cama e não para o casamento, como pensar que o homem negro também não reproduz esse tipo de pensamento sobre ela quando o que mais vemos são eles se casando com as brancas?”, questiona.
Embora a palavra “solidão” seja normalmente associada a sentidos negativos, a professora da UNEB conta que, nos depoimentos que colheu, o termo foi sendo ressignificado – as mulheres negras, como protagonistas de sua própria história, transformaram sua dor em força. “O sentimento de solidão se traduziu em sofrimento, choro, desilusões amorosas e decepções. Mas, apesar desses processos de exclusão social, discriminação étnica e social, essas mulheres se empoderaram, muitas delas superaram desigualdades fundamentais – a questão da sobrevivência, por exemplo, social e econômica –, tornando-se chefes de família, criando seus filhos sozinhas e sem parceiros”, relata. “Há mulheres que se tornaram grandes lideranças do movimento social negro e alcançaram prestígio a ponto de se transformarem em lideranças de grande expressão nacional e internacional e ocupar grandes cargos políticos dentro da sociedade brasileira. E há mulheres que, por outro lado, se empoderaram através do trabalho, da ascensão social e de uma percepção com relação a essas desigualdades.”
Contra a imposição do padrão de beleza branco e pela valorização da estética negra, mulheres negras realizaram, em julho, a Marcha do Orgulho Crespo (Foto: Marcha do Orgulho Crespo 2015)
Contra a imposição do padrão de beleza branco e pela valorização da estética negra, mulheres negras realizaram, em julho, a Marcha do Orgulho Crespo (Foto: Marcha do Orgulho Crespo 2015)


Consequências psicológicas

O preterimento e a solidão afetiva que atingem as mulheres negras podem causar a elas grande sofrimento psicológico e, por serem baseadas em valores racistas, podem gerar ainda o adoecimento físico. É o que explica a psicóloga Maitê Lourenço, também neuropsicóloga pelo Centro de Diagnóstico Neuropsicológico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradora do Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. “Dentro do processo cognitivo, palavras, gestos e ações são captados e processados pelo cérebro, formando assim a concepção daquela mulher sobre si mesma de uma forma deturpada”, avalia. Ela salienta que o quadro não se limita às mulheres heterossexuais – lésbicas e bissexuais também enfrentam esse fenômeno social, bem como as transexuais.
Segundo a neuropsicóloga, adjetivos pejorativos, como “feia”, “macaca” ou frases ditas por familiares, colegas e outras pessoas como “ninguém vai te querer assim” fazem parte do contexto diário das mulheres negras, gerando sentimentos de menos valia, baixa autoestima e introspecção. Com isso, pela violência do racismo, há possibilidade de que a depressão, ansiedade e outras doenças crônicas, como asma e fibromialgia, acometam essas mulheres.
“A humilhação social também é um dos sofrimentos psíquicos causados pela solidão da mulher negra”, pontua Lourenço. “Essa mulher sente-se humilhada por perceber que não corresponde ao que é esperado para sua idade, classe social, escolaridade e ambiente familiar. Timidez excessiva, irritabilidade, ansiedade intensa, hipertensão, depressão, obesidade, uso abusivo de álcool e outras drogas também são consequências, dentre muitas outras, do processo vivido por estas mulheres”, destaca.
Clélia Prestes, mestre e doutoranda em Psicologia Social pela USP e psicóloga do Instituto AMMA Psiquê e Negritude, também discorre sobre as implicações que a solidão afetiva pode acarretar para a autoestima das mulheres negras. “Desde o nascimento e ao longo do processo identitário, a autoestima é influenciada pelos referenciais coletivos de beleza, nos quais as mulheres negras praticamente não estão representadas, apesar da maioria da população brasileira ser negra. Como resultado, no imaginário social e em concepções pessoais, pensamentos e sentimentos que tratam a diversidade com hierarquia de valores, prejudicando drasticamente a forma como mulheres negras são vistas e, consequentemente, sua autoestima e relações afetivas.”
Em sua atuação profissional, Maitê Lourenço atende mulheres que relatam o quão difícil é o estado de solidão, pois muitas vivem suas vidas inteiras de maneira solitária. “No passado não muito distante de muitas famílias, assim como a minha, essas mulheres permaneceram cuidando das famílias de outras mulheres – brancas – que tinham em seus lares maridos e filhos. E por causa do machismo, patriarcado e do capitalismo, essas mulheres tiveram que ficar distantes de seus familiares por morarem nas casas onde trabalhavam, privando-as assim de também de construir seus lares e manter maior contato com outras pessoas, já que não puderam estudar, viajar e etc”, ressalta.
De acordo com a psicóloga, a necessidade de fugir desse quadro social e evitar uma vida solitária também torna as mulheres negras vulneráveis a relacionamentos abusivos. “A própria violência doméstica também pode fazer parte das estatísticas para pontuar o que acontece com as mulheres negras, pois muitas acabam se submetendo a relacionamentos abusivos para não permanecerem sós.”
No entendimento de Clélia Prestes, embora tantas pessoas sofram com as consequências do racismo, a “psicologia tem sido omissa e conivente” com relação a ele, “na medida em que não o enfrenta”. “Ao desconsiderar os marcadores sociais da diferença como raça, gênero, orientação sexual, geração, classe, entre outros, trata como universal seres que são diversos, desconsiderando suas especificidades e impondo de forma hegemônica características particulares de grupos dominantes.”
Para Lourenço, a mídia tem uma grande responsabilidade na perpetuação dos estigmas advindos de concepções racistas. “Venho acompanhando alguns comerciais, novelas e séries brasileiras e o que mais se vê são mulheres negras em funções subalternas e, quando há núcleo familiar para ela, há no máximo filhos, a mãe dessa mulher ou um irmão. O fato da mulher negra ser representada desta forma impacta também na identificação de meninas, mulheres e das outras pessoas de que a mulher negra tem somente esse lugar a ocupar, gerando assim sofrimento psíquico e mais obstáculos, que arduamente as mulheres negras vêm tratando de transpor”.
Embora a solidão afetiva tenha, muitas vezes, consequências devastadoras para a vida das mulheres negras brasileiras, Prestes destaca que elas “não ficam apenas expostas passivamente a quadros de vulnerabilidade e solidão, mas, enquanto reagem às adversidades e resistem às opressões, acabam se fortalecendo individual e coletivamente”. “Em minha clínica, nas atuações pelo Instituto AMMA Psique e Negritude, no ativismo (movimento negro e feminismo negro) e na pesquisa, pude observar a importância da identificação positiva e das redes de mulheres negras para diminuir os efeitos e mudar o quadro de solidão, potencializando processos de resistência, superação e resiliência”, conta. 
(Ilustração de capa: Monica Stewart)
Amor Afrocentrado

Luh Souza é conhecida nas redes por sua atuação contra o racismo e por ser fundadora e moderadora do grupo “Amor Afrocentrado” no Facebook, onde homens e mulheres negras se reúnem para discutir questões relacionadas ao racismo, aos relacionamentos afetivos e, caso exista a oportunidade, encontrar pares com quem possam construir relações românticas.
O termo “Amor Afrocentrado”, que se refere aos relacionamentos entre pessoas negras, é usado há muitos anos, quando Souza começou a discutir o tema da solidão da mulher negra com amigos e companheiros de militância – logo seus debates deram continuidade em outra rede social, o Orkut, ainda em 2009.
O grupo do Facebook começou como um facilitador de encontros, pois Luh Souza ouvia amigos se queixando de que não conseguiam encontrar outras pessoas negras com quem pudessem se relacionar. “Então pensei: preciso fazer um ponto em que os solteiros possam se encontrar e vamos discutindo juntos nossos problemas”, relata. Até o número que contou, o grupo teve como resultado a quantidade de 60 casais, entre eles 3 se casaram e algumas crianças nasceram dessas uniões.
A intenção do grupo era discutir o assunto exclusivamente entre pessoas negras, como um debate interno; para Luh Souza, uma medida em parte para evitar polêmicas e acusações de “racismo inverso”, mas também como resultado do desinteresse de pessoas brancas. Segundo Souza, o debate, que tem mais de uma década de proposta, sempre tentou fazer com que os homens negros refletissem sobre o companheirismo e presença das mulheres negras em suas vidas, seja como mães, irmãs e avós, ou como companheiras que sempre enfrentaram o racismo e as consequências da discriminação racial lado a lado contra os homens negros. “Se fossem pra cadeia, estivessem internados ou na escola e até mesmo no caixão, quem sofre e derruba lágrimas são as mulheres ali. E quando cresciam, por que se recusavam amar uma mulher negra? Por que eles não podiam ser românticos com ela? Quando a gente consegue colocar essas questões todas juntas na cabeça deles, há uma transformação”, relata Souza.
Mas apesar da boa vontade e do trabalho totalmente voluntário, discutir sobre a solidão da mulher negra e tentar promover relacionamentos afrocentrados não foi uma prática fácil. “Claro que apareceram os homens pilantras tentando enganar as irmãs, casados, mas sempre que eu soube, tirei do grupo, bloqueei”, afirma. Depois de alguns desentimentos e preocupações, Souza decidiu não mais moderar o grupo, deu-se por satisfeita com os objetivos alcançados e passou a orientar os integrantes para que tivessem cuidado e responsabilidade ao conhecerem novas pessoas.
Mas os desafios que surgiram não são apenas aqueles que envolvem qualquer relacionamento humano: as polêmicas em torno do assunto passaram a crescer à medida que o tema ganhou visibilidade na internet.
Luh Souza interpreta esse quadro de polêmicas crescentes como um erro estratégico. Para ela, o tema da solidão da mulher negra deveria ser um debate restrito aos grupos que militam contra o racismo. “É desgastante ter de debater racismo com ‘não negros’ e igualmente desgastante debater solidão da mulher preta abertamente. Veja que eles estão pegando isso pra nos atacar, difamar pela rede, sendo que eles sabem que se casam entre brancos em sua maioria, só que para eles isso é normal. Agora, se formos levantar a questão, aí acusam-nos de racismo inverso. Um exemplo: quantos jogadores de futebol ou artistas brancos são casados com mulheres negras? Se o amor não tem cor…”, provoca.
No entanto, Souza faz questão de frisar que a crítica não é contra os relacionamentos interraciais em si. “O amor interracial vai existir sempre”, pontua. “O que discutimos é o racismo embutido em forma de relacionamentos amorosos. Se existe o amor entre as pessoas, por que existe o recorte racial dentro desse suposto amor? Qual a causa das mulheres brancas terem duas opções? Veja que o recorte racial existe até dentro de relações homoafetivas onde uma pessoa branca tem mais chances de encontrar seu amor do que pessoas negras”, questiona.
“Então a discussão não é, e nunca deverá ser, contra a miscigenação, mas contra a regra imposta pela Teoria do Branqueamento em que mulheres negras não merecem ser amadas, já que ela é preterida por todas as etnias”, declara. De acordo com Luh Souza, mesmo mulheres negras consideradas belas e inteligentes reclamam que são preteridas. “Há algo muito errado, muito mesmo. No fundo, a frase ‘amor não tem cor’ é igual a ‘somos todos iguais’. A palavra certa seria ‘amor’ somente. Se a sociedade precisou complementar a palavra ‘amor’ com a frase ‘não tem cor’ é porque precisam se justificar e, se precisam se justificar, é porque existe um problema aí que ninguém quer saber de rever, discutir. Inventam uma frase poética pra se conformar com ela e não resolver o que é preciso, igualmente ao ‘todos somos iguais’. Pronto, de posse da poesia contida nas frases, que se dane o resto. Vamos viver em um padrão sem respeitar o grito de quem está sendo excluído dentro da sociedade por ser diferente”, protesta Souza.
Para ela, o assunto precisa ser debatido e o desequilíbrio mostrado pelas estatísticas deve ser questionado. “Mas, uma vez que os homens já fizeram suas escolhas, estão casados com brancas e têm até filhos, não podemos interferir”, afirma.


Veja mais no portal: http://www.revistaforum.com.br/semanal/a-solidao-tem-cor/

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A invisibilidade das Comunidades Quilombolas de Mato Grosso do Sul



Por Nayhara Almeida de Sousa
do GERAA
Atualmente o que a maioria das pessoas entende por comunidade quilombola está muito distante da realidade. O que é usualmente entendido por comunidade remanescente quilombola se remete à definição utilizada no período colonial brasileiro, mais exatamente àquela do século XVIII, para a qual quilombo era “toda a habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles” (MOURA, 1981: p.16). E no estado de Mato Grosso do Sul não seria diferente, apesar de ter mais de 21 comunidades reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, ainda não tem avanços significativos na questão de reconhecimento das comunidades quilombolas como grupos sociais e, portanto, com direitos.
Com a publicação do decreto de 4.887/2003 temos a regularização de todo o  procedimento que efetiva a titulação das terras, além de uma redefinição do conceito de comunidade quilombola, diferenciando-se daquela antiga que era marcada pela colonização, e passando agora a ser compreendida através da auto determinação dos povos. Conforme o artigo 2º do Decreto,
 consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, seguindo critérios de autoafirmação, com a trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais especificas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida (BRASIL, 2008).
Retomando o histórico sobre o assunto, em 1988 foi reconhecido pela Constituição Brasileira o direito de propriedade definitiva das terras ocupadas por remanescentes quilombolas, através do artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.” (BRASIL, 2008). O reconhecimento de propriedade das terras quilombolas pela Constituição de 1988 não foi suficiente para a efetiva regularização desses territórios, e contestações contrárias às titulações eram fundamentadas na falta de regulamentação no processo de demarcação e titulação dessas terras.
Mas, foi com a publicação do decreto 4.887, no dia 20 de novembro de 2003 se estabeleceu a forma de como proceder à demarcação e titulação do território quilombola. Da década de 1980 até 2003 se desenrolaram anos de silêncio quanto a este assunto e, apesar de haver milhares de comunidades espalhadas pelos estados brasileiros, ainda há a impressão de inexistência ou de distancia das comunidades, o que remete muitas pessoas à noção de quilombo do período colonial.
Vários grupos contrários aos direitos adquiridos pelas comunidades se manifestaram. O partido Democratas (DEM) ajuizou em 2004 uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) no Supremo Tribunal Federal pela publicação do decreto 4.887. A ADIn é contrária ao critério de autoatribuição para a identificação das comunidades remanescentes quilombolas, e o caso ainda aguarda julgamento.
De acordo com Santos (2010), o ano de 2007 ficou marcado pelo aumento dos conflitos no estado do Mato Grosso do Sul entre as comunidades rurais quilombolas e o Governo do Estado, Sindicato Rural de Dourados; as Prefeituras Municipais de Nioaque, Dourados e Sonora; grandes proprietários de terras; e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (FAMASUL). [1]
A partir da definição ultrapassada sobre o que é uma comunidade remanescente quilombola, criou-se uma situação constrangedora para o Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHG-MS), que reforçou ainda mais a posição contrária ao reconhecimento das comunidades quilombolas no estado de MS. Em 2008 o então presidente do IHS-MG Hildebrando Campestrini exalou um parecer negando a existência de qualquer formação de comunidades quilombolas no estado de Mato Grosso do Sul. O parecer dizia o seguinte:
                               
Considerando que o sul de Mato Grosso despontou no cenário econômico brasileiro como área de produção pecuária, após as décadas de 1830/1840, quando a escravidão já se encontrava em processo gradativo de desarticulação; Considerando que o território hoje sul-mato-grossense se encontrava fora da rota de fuga dos escravos egressos dos centros econômicos mais significativos à época do regime escravista (SP, MG e região norte de MT); Considerando que havia, no último quartel do século XIX, forte empenho de líderes pela libertação de escravos, a exemplo das Juntas de Emancipação nas principais vilas e cidades do sul de Mato Grosso, com resultados positivos; Considerando que, sobretudo após a Guerra da Tríplice Aliança, o número de escravos no sul de Mato Grosso era de reduzido significado; Considerando que não há documentos, nem ao menos indícios, que provem a existência, no atual Mato Grosso do Sul, de quilombos, mesmo que tardios. Manifestam-se, por unanimidade, no sentido de não reconhecer a presença de quaisquer núcleos quilombolas remanescentes em nosso Estado. Campo Grande, 10 de setembro de 2008. Hildebrando Campestrini – Presidente (SANTOS, 2010: p.20).
Como é perceptível no Parecer Quilombola do IGH-MS, a visão sobre as comunidades está presa em um passado colonial, como algo exótico, perdido e afastado da noção de cidadão brasileiro. O parecer ganhou destaque na mídia local e teve ampla recepção pelos produtores agropecuários, sendo largamente difundido pela FAMASUL através da circular nº 041/2009, ao Secretário da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, das Cidades, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia/SEMAC. Em seu ofício a FAMASUL afirma a não existência de remanescentes quilombolas no Mato Grosso do Sul.
O Parecer Quilombola produzido pelo IHG-MS encara comunidades remanescentes como aquele conceito da época imperial e deixa de perceber como bem lembra Amaral Filho (2011) que os remanescentes de quilombolas surgem recriando um processo identitário e não o repetindo. Recriando seus laços com a África, “eles passam a se comportar no Pós-Colonial diaspórico como um grupo multicultural miscigenado diferente de sua noção clássica” (AMARAL FILHO, 2011).
A colonização, apesar de um processo extinto oficialmente, permanece enraizada nos dias atuais, como fator excludente e marginalizador de determinados grupos sociais. No caso de Mato Grosso do Sul, essa situação é facilmente identificada quando se trata da garantia de direitos das populações indígenas e comunidades quilombolas.
No discurso da mestiçagem, baseado na ideia de um Brasil mestiço, onde o moreno é o termo ideal de representação da população afro-brasileira, o termo negro deixa de ser mencionado de forma positiva pela sociedade brasileira, pois a ideia mitológica de democracia racial encontra suas bases no moreno. A troca de um termo por outro não significou um tratamento respeitoso para a população negra, sua história e suas memórias, e não resultou numa equidade nas oportunidades entre todos no Brasil. Antes disso, a criação de um discurso de democracia racial “contribuiu” para que se afundasse no silenciamento o racismo vivenciado no Brasil, fortalecendo um discurso hipócrita e controverso.
É importante entender porque é tão popular a utilização do termo moreno, quando se refere à população afro-brasileira.  Uma breve análise na história de formação da identidade nacional, (ORTIZ, 2003) é possível perceber como foi a movimentação dos grandes intelectuais e dirigentes nacionais para a formulação de teorias e projetos sobre um modelo nação brasileira. Este modelo de nação era pensado para o futuro, um futuro que através da miscigenação racial, se tornaria branco.
Mato Grosso do Sul não fugiu aos moldes nacionais quanto à formação de uma identidade regional baseada na falsa ideia de democracia racial e de branquidade. Este modelo foi refletindo diretamente na invisibilidade dos remanescentes quilombolas do Estado. Um exemplo, Campo Grande, que é conhecida como a cidade morena, não possui menção alguma sobre a vida de camponeses e nem de escravizados, em nenhum dos seus 14 museus (Santos, 2010: p. 31).
 Não é possível que atualmente, dirigentes e intelectuais ainda expressem noções sobre o que é ser remanescente quilombola baseados em conceituações cristalizadas em um passado colonial. A ideia sobre ser quilombola hoje ultrapassa a noção colonial e se aproxima muito mais de uma ressignificação do caráter multicultural do quilombo surgido no território africano, mas muito diferente da conceituação de quilombo feita pelo colonizador. E ainda, não é possível permitir, que ideias como a do Parecer Quilombola, após a criminalização do racismo em 1988, sejam formas de propagação de racismo sutil através da negação da existência de comunidades quilombolas no estado.
A afirmação do Parecer demonstra muito dos aspectos da invisibilidade social e econômica da população negra brasileira. A população quilombola faz uso de terras reconhecidas como patrimônio histórico pelo Estado Brasileiro, compartilhando valores comuns, parentesco, práticas culturais. Devemos ultrapassar esse entendimento vindo do período colonial que prejudica a existência e garantia de direitos civis, econômicos, sociais e culturais das comunidades remanescentes quilombolas no Brasil.
Referências Bibliográficas
AMARAL FILHO, N. C. Mídia e Quilombos na Amazônia. Relações Raciais no Brasil: pesquisas contemporâneas. Org. Valter Roberto Silvério, Regina Pahim Pinto, Fúlvia Rosemberg. São Paulo: Contexto, 2011.
SANTOS, C. A. B. P dos. Fiéis descendentes redes-irmandades no pós-abolição entre as comunidades negras rurais sul-mato-grossenses. Tese de Doutorado em Antropologia Social. UNB, Brasília, 2010.
BRASIL, Ministério Público Federal. Procuradoria Geral da Republica, 2 região. Territórios Quilombolas e Constituição: A ADI 3.239 e a Constitucionalidade do Decreto 4,887/03. Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Percepção da corrupção através de vídeo mexicano - vídeo chocou o país

Um vídeo do México que fomenta uma reflexão sobre a corrupção e o futuro que aspiramos para a sociedade. O México, assim como o Brasil, é um país que possui uma grande insatisfação no que se refere a sensação de corrupção das instituições políticas. 
O vídeo mostra crianças em papeis sociais de adultos, trabalhando, interagindo, protestando, realizando propina, violência e várias outras facetas do mundo atual. Vale muito a pena assistir!





terça-feira, 26 de novembro de 2013

A mulher na religião islâmica

Para alunos que estão estudando as instituições sociais, principalmente a religião. Algumas considerações sobre diversidade religiosa e o fundamentalismo foram discutidas em sala. Não obstante, é importante revelar o mal que há em algumas culturas que utilizam da religião para subjulgar e explorar de maneira desumana o outro. 
No vídeo há relatos de casos e imagens de mulheres mulçumanas que vivem a dominação masculina na pele.


domingo, 26 de maio de 2013

Baraka - Filme de Ron Fricke



Assistimos nas aulas o filme Baraka. É um documentário diferente, não havendo diálogos, conversas, narração. Contudo, é de grande importância pois mostra a vida cotidiana. Mostra a vida humana em contraste com paisagens naturais. Nele vimos rituais, comportamentos, diversidade cultural, algo que é paradoxalmente diferente e ao mesmo tempo nos une como seres humanos vivendo nos quatro cantos do planeta.

O filme documentário, dirigido por Ron Fricke, segue a mesma linha de Koyannisqatsi. Ron Fricke realizou as imagens da trilogia Qatsi, pois era cinegrafista desta sequência.

Baraka pode significar "energia vital", maná, sopro de vida, onde se desenvolve a dinâmica da vida no planeta. É antes de tudo, a vida humana no planeta, com uma relação forte com o ambiente. Não há separação, somos resultados da interação social, cultural nesse ambiente que é a Terra.

Aos alunos do 1°Ano cabe a importância da observação para revelarmos as sociedades humanas. Aos alunos do 2° Ano, percebam a riqueza cultural da sociedade humana. Observem os ritos, o cotidiano, o modo de ser, a vestimenta, e principalmente os olhares.

Link para o vídeo: CLIQUE AQUI

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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Uma história de Amor e Fúria



Animação brasileira está concorrendo em festivais mundo afora. E não entrou em cartaz nos cinemas de Campo Grande, que pena!


domingo, 21 de abril de 2013

Um mar de foguinhos




Um homem do povoado de Neguá, na costa da Colômbia, pôde subir ao alto do céu. Na volta, contou. Disse que havia contemplado, lá de cima, a vida humana. E disse que somos um mar de foguinhos.

- O Mundo é isso, revelou. Um montão de gente, um mar de foguinhos.

Cada pessoa brilha com luz própria entre as demais. Não há dois fogos iguais. Há fogos grandes, fogos pequenos e fogos de todas as cores. Há pessoas de fogo sereno, que nem percebem o vento, e pessoas de fogo louco, que enchem o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam e nem queimam, mas outros ardem na vida com tanta vontade que não se podem vê-los sem pestanejar, e quem se aproxima se acende.”

(Galeano, El libro de los abrazos, Siglo XXI.)












sexta-feira, 19 de abril de 2013

Kohixoti Kipaé - Dança da Ema Terena

Curta da oficina tela brasil na cidade de Campo Grande-MS. Sobre a temática indígena, e da violação de sua cultura . Com dificuldade, um adulto terena passa conhecimento de sua cultura para a criança. E é reproduzido a dança da Ema, ritual de alegria.




Trabalho de projeto de Antropologia Visual.Vários colaboradores realizaram esse trabalho.
Agradeço a minha amiga Natália Martins, Cientista Social que trabalhou neste filme.


19 de Abril - Dia do índio








No dia 19 de abril se comemora o dia do índio.




Por que nesta data ?



Foi promulgada no governo de Getulio Vargas em 1943. Através do decreto lei nº 5.540 foi criada esta data comemorativa.

Em 1940 aconteceu o primeiro congresso Indigenista Interamericano, com participação de diversas autoridades do continente americano e ligadas ao movimento indígena e estudo de povos tradicionais. 
O congresso foi realizado no México e as lideranças indígenas ficaram com receio em participar - pois estavam sendo vítimas de descaso governamental, discriminação e desterritorialização. 

Após diversas reuniões os indígenas participaram. Contudo, os líderes indígenas compareceram ao evento apenas no dia 19 de Abril - por isso a data comemorativa.


Qual a importância da data!?


Neste dia do ano ocorrem vários eventos dedicados à valorização da cultura indígena. Nas escolas, os alunos costumam fazer pesquisas sobre a cultura indígena, os museus fazem exposições e os municípios organizam festas comemorativas. Deve ser também um dia de reflexão sobre a importância da preservação dos povos indígenas, da manutenção de suas terras e respeito às suas manifestações culturais.

Devemos lembrar também, que os índios já habitavam nosso país quando os portugueses aqui chegaram em 1500. Desde esta data, o que vimos foi o desrespeito e a diminuição das populações indígenas. Este processo ainda ocorre, pois com a mineração e a exploração dos recursos naturais, muitos povos indígenas estão perdendo suas terras.


Antes de mais nada!


Nova maneira de pensar sobre os 'índios'.

Todos temos uma importância para que não sejamos desonestos com as diversas culturas que existem no país. Os povos indígenas possuem maneiras de ser, trabalhar, costumes, regras de parentesco, alianças, sistemas de crenças, culinária e todo o conjunto de significados que formam uma rica cultura. Não obstante, são várias etnias, que são "apagadas" na sua rica heterogeneidade através de uma mídia burra e discriminatória. O status quo diz que índio é coisa do passado. Dizem que eles tornaram-se aculturados. Para não repetirmos as bobagens de pessoas ignorantes no assunto leia abaixo.




Regras para refletir e entender os povos indígenas


  1. Não são um povo homogêneo. São na verdade diversas etnias, cada qual com suas particularidades.
  2. São diversas linguas. No Brasil são cerca de 180 povos com mais de 200 línguas. É claro que muitas são faladas pelos nativos mais antigos; os anciãos, os mais velhos de cada etnia. Não se pode falar que só o português é falado no país. 
  3. A cultura é um processo histórico e dinâmico. Não se pode falar que os povos indígenas perderam suas práticas tradicionais e por isso não são mais índios! Nada mais falso.
  4. Etnocentrismo é achar que sua cultura é melhor do que as outras. É colocar-se no centro e ter sua etnia, seu povo como base para comparações. Antes de falar do povo alheio, leia mais sobre antropologia e aprenda a eliminar conclusões precipitadas e falsas verdades.
  5. Eles chegaram primeiro. O Brasil não foi descoberto. Foi colonizado por países imperialistas, cujo único propósito era a dominação. Eram cerca de 6 milhões de índigenas em 1500, no século XV. Em 500 anos o país, através do genocídio, dizimou a população. Hoje alguns números apontam 500 mil indígenas. Mataram mais de 1 milhão de índios por século no Brasil.