quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Sobre o anti-intelectualismo

Em tempos de pós-verdades, fake news, teorias da conspiração e desprezo pelo conhecimento científico, a apologia à ignorância humana está definitivamente na moda. Nesse sentido, podemos dizer, sem exagero algum, que vivemos a “era do anti-intelectualismo”. Antes do advento do espaço virtual, os “anti-intelectuais” estavam dispersos, não possuíam a noção de sua força numérica e, até certo ponto, se sentiam envergonhados de suas ideias controversas. No entanto, tudo mudou com a internet.
Conforme afirmou o saudoso escritor e filólogo italiano Umberto Eco, as redes sociais concederam o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”. Normalmente, os imbecis eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel. Desse modo, conclui Eco, o grande drama da internet é que ela promoveu o “idiota da aldeia” a portador da verdade.
Não por acaso, ideias absolutamente esdrúxulas como a chamada “Terra Plana” tem ganhado um número cada vez maior de adeptos. Para os “terraplanistas”, nosso planeta não é esférico, mas plano, com o formato de um disco circular. De acordo com essa “teoria”, não existe gravidade, o Polo Norte está localizado no centro do planeta e as estrelas estão “presas” ao céu. Sendo assim, basta um mouse e um computador pessoal para que qualquer indivíduo possa “refutar” teorias científicas corroboradas há séculos por importantes pensadores como Copérnico, Newton, Einstein.
Ainda no campo científico, os “anti-intelectuais” questionam a eficácia de algumas vacinas e rejeitam veementemente a Teoria da Evolução formulada por Charles Darwin. No terreno pedagógico, os “anti-intelectuais” (que nunca pisaram em uma sala de aula, exceto, é claro, como alunos) querem extirpar Paulo Freire das escolas, porém acreditam que as instituições de ensino brasileiras não respeitam os valores tradicionais da família, pois são responsáveis por promover a “ideologia de gênero”, o “cientificismo” e a “doutrinação comunista”. No tocante à história do Brasil, a moda entre os “anti-intelectuais” é ser “politicamente incorreto” e negar acontecimentos como o massacre de indígenas durante o período colonial, a escravidão de negros e o golpe militar de 1964.


Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/dilemas-contemporaneos/a-era-do-anti-intelectualismo/

Nenhum comentário:

Postar um comentário