sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Voluntário do CVV [Centro de Valorização da Vida] comentam sobre seu trabalho

CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece atendimento gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio. De acordo com o site da associação, são cerca de 1 milhão de pessoas atendidas por voluntários todo ano.

Perguntamos a voluntários do CVV como funcionam os atendimentos e o que mais eles gostariam de dizer sobre o trabalho no centro. Todas as respostas são anônimas e as melhores estão neste post.

1. No CVV todo mundo é voluntário. E cada atendente trabalha cerca de 4 horas por semana, mas há quem trabalhe mais que isso.

2. Nos atendimentos o anonimato é sempre garantido.

3. Os voluntários não têm qualquer tipo de contato com quem liga a não ser o próprio atendimento.
Ele se restringe ao contato feito no momento do plantão. Não há conversa depois, troca de perfis de redes sociais ou números de telefone.
4. Muitas pessoas que procuram o CCV estão cercadas de gente e, mesmo assim, se sentem sozinhas.
"Aprendo sempre com os atendimentos que faço, e me impressiona sempre a pessoa estar cercada de pessoas e se sentir só. A ajuda que oferecemos é compreensão pelo que a pessoa está sentindo e passando. Tento sempre ajudar compreendendo o mundo da pessoa e a situação que ela vive", disse ao BuzzFeed Brasil um dos voluntários.

5. E muitas pessoas falam, sim, claramente que vão se matar.

"Atendimentos em que a pessoa liga e fala claramente que vai se matar sempre marcam. Nesse momento a gente respira fundo e calmamente e inicia uma longa conversa sobre a vida dela, sobre como ela se sente e como tem sido lidar com a dor que ela tem."
"Um atendimento marcante foi de uma pessoa idosa que morava sozinha e se sentia extremamente só. Ela ligou para ouvir um simples 'boa noite' de alguém, como se fosse só para se sentir viva. Depois acabou conversando um pouco".
"A ligação que mais me marcou foi da pessoa que ligou, pegou um violão e queria mostrar as músicas que compôs".
"Uma pessoa falou que estava em um hospital com uma doença em estado avançado e queria alguém para compartilhar seu momento".
"A ligação que mais me marcou foi de uma pessoa que pela primeira vez fez um bolo que deu certo, mas que teria que comer sozinha porque não tinha com quem dividir".


7. As ligações podem ser silenciosas.
"As ligações silenciosas são as que mais marcam, pois desta forma trabalhamos também nossa ansiedade como voluntário. Ajudo acolhendo, aceitando, respeitando e compreendendo a dor".

8. Ouvir pode ser mais importante do que aconselhar.

"Uma coisa muito importante que aprendi no CVV, e que trago para a minha vida, é não aconselhar. Cada um tem uma história, criação e maneira de enxergar o mundo que é muito própria. Não me sinto em condições de dar algum conselho, pois minha visão a respeito do assunto sempre será limitada. Além do mais, o que é bom para mim não necessariamente será bom para o outro. O que posso fazer é acolhê-lo, ouvi-lo, respeitá-lo, para que, ao falar e reduzir a pressão, ele mesmo se ouça e tire suas próprias conclusões".
9. A maioria dos casos está relacionada a perdas (saúde, dinheiro, emprego, amigos, parceiros).

"Em todos as situações me coloco à disposição para conversarmos. O objetivo é criar um clima favorável para que a pessoa desabafe, aliviando aquele sofrimento agudo do momento, com respeito, atenção, sem subvalorizar o seu sofrimento, de maneira que ela possa tomar as decisões que julgar melhores para seguir adiante".

10. Às vezes as pessoas ligam por engano, mas aproveitam para desabafar.

"As ligações mais marcantes são das pessoas que ligam por engano, descobrem que ligaram para o CVV sem querer e aí começam a desabafar".

11. Nem sempre as pessoas que ligam pensam em suicídio: às vezes elas só estão nervosas.

"Uma pessoa ligou 'por engano' para nós querendo atendimento para um acidente de transito que havia sofrido, e com o acolhimento pôde desabafar e se acalmar com o ocorrido".




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